sábado, 13 de junho de 2009


trechos de Carpeaux

Alguém pode me dizer uma página e uma edição que contenham os trechos:

"Aristófanes tem um ideal ético. Isso lhe dá o direito de se referir ao mito, de modo que a relação entre mito e vida, base do estado ateniense, começa a desaparecer. Então a comédia assume a função abandonada. A comédia de Aristófanes é, do mesmo modo que a tragédia de Ésquilo, teatro religioso. É arte dionísica, daí os costumes fálicos."




"é quando a comédia abandona a louvação dos mitos e usa a 'liberdade de imprensa' até contra os deuses, escarnecendo implacavelmente as pobres divindades que não sabem defender a ordem dos "bons e velhos tempos" contra demagogos e dramaturgos. Os deuses de aristófanes são politiqueiros, demagogos e prostitutas, assim como seus representantes na terra. Pura farsa cósmica"

da História da Literatura Ocidental ?
03/02/07
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ocupado(a) Hëlio

É do Volume número 1 da História da Literatura Ocidental. Certeza eu não tenho porque existe a possibilidade de 1 em um bilhão de que algum engraçadinho tenha forjado falsos livros de Carpeaux, colocado uma capa igualzinha a verdadeira e espalhado em sebos e bibliotecas justamente nos locais que eu consultaria.

Creio que está próximo a página 101, porque na página 71 ainda era o assunto sobre tragédia grega.

Pag 71

"O teatro grego é mais retórico e mais lirico do que o moderno. Os discursos extensos, que os gregos não se cansavam de ouvir, seriam insuportáveis para o expectador moderno, que prefere a ouvir discursos, ver e viver a ação.

O grego, ao que parece, frequentava o teatro para se deixar convencer pela justeza de uma causa, como se estivesse assistindo à audiência do tribunal ou à sessão da assembléia.

E os requintes de retórica, superiores em muito aos pobres recursos da eloqüência moderna, não bastaram para este fim, acrescentando-se por isso, aos argumentos de raciocínio, as emoções da poesia lirica, acompanhada como sempre de música, de modo que a representação de uma tragédia grega se assemelhou, por assim dizer, às nossas grandes óperas. Mas a ópera moderna é gênero privativo das altas classes da sociedade, enquanto a tragédia grega era instituição do Estado democrático, e a participação nela era u direito e um dever constitucionais.

Assim a tragédia grega era um discurso parlamentar na qual se debatia, lançando-se mão de todos os recursos para influenciar o público, um mito da religião do estado.

Considerando-se isto, as concorrências dos poetas, que apresentaram peças, perdem o caráter de competição esportiva: a vitória não cabia ao maior poeta ou a melhor poesia dramática, mas a peça que impressionava mais profundamente; quer dizer, à peça no qual o mito estava reinterpretado de tal maneira de que o público se convenceria de sua interpretação e - podemos acertar - por isso o Estado o aceitava. Com a representação solene a causa estava julgada e a lei votada."
03/02/07

Felipe

Os trechos mencionados são citações (ligeiramente alteradas) de um parágrafo da História da Literatura Ocidental de Carpeaux, 2a. ed. rev. e at., Alhambra, Rio de Janeiro, 1978, vol. I, pág. 59.

O parágrafo, em sua redação original, diz:

Aristófanes tem um ideal ético. Isso lhe dá o direito de referir-se ao mito. A tragédia já desistiu do seu direito de reinterpretar o mito, de modo que a relação entre o mito e a vida, base do Estado ateniense, começa a desaparecer. Então, a comédia assume a função abandonada. A comédia de Aristófanes é, do mesmo modo que a tragédia de Ésquilo, teatro religioso. É arte dionisíaca: daí os costumes fálicos, as máscaras de animais. Apenas, Aristófanes usa sua "liberdade de imprensa" até contra os deuses, escarnecendo implacavelmente as pobres divindades que não sabem defender a ordem dos "bons velhos tempos" contra demagogos e dramaturgos. Os deuses de Aristófanes são politiqueiros, demagogos e prostitutas, assim como os seus representantes na terra. Pura farsa cósmica. Nunca mais o mundo viu uma coisa dessas.
03/02/07

Ana V.

Ana V.
são os que eu tenho, mas edição do ano de 1980! não lembrava mesmo, nem desse "pura farsa cósmica"
03/02/07
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ocupado(a) Hëlio

Muito obrigado.

As diferenças de texto se explicam possivelmente pelo fato de ser uma edição diferente e de eu a ter anotado com pressa. Neste edição acima mencionada, o trecho que atribui a página 71 deve ter outra página. Minha estimativa é que esteja próximo a página 20.
03/02/07
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ocupado(a) Hëlio

Usei um exemplar da Biblioteca Regional de Copacabana, bem antigo. Eu tinha um exemplar de capa cinza, mas desapareceu.
03/02/07

Felipe

O trecho mencionado acima, acerca das funções e características do teatro grego, está na pág. 52 da edição de 1978.
06/02/07
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ocupado(a) Hëlio

Pena que só agora vi este post. Se alguém quiser ver aonde tais trechos foram usados, vejam:

http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=2195607&tid=2511643806116096599&na=2&nst=38
6 mai

♪Letícia

Os intelectuais não têm a obrigação de transformar o mundo; o seu
dever é transfigurá-lo pela criação, a criação artística.

Otto Maria Carpeaux
[A cinza do purgatório]
12 mai

♪Letícia

Na origem da obra literária não está um acontecimento da vida do autor,
mas só a emoção, desatada por esse acontecimento; a obra é tanto mais
perfeita, quanto mais a emoção original está dominada, transformada em "forma".

Otto Maria Carpeaux
[A cinza do purgatório]

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